sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ENTREGO


me entrego 
de alma 
de corpo 
de cara
de id que ego
em peito aberto
me entrego
me faz toda nua
na kama que sutra
imploro tortura
 mão que procura
sedenta luxúria
me entrego
me abre te fecho
curada de sexo
sem calma de nexo
inverso que avesso
me satisfaz... 

Flavia D'Angelo
Foto: Lena Maia




VENHA


venha
me brinque
dedilhe nas curvas
solando loucuras
pisando desejo
segredo...

Flavia D'Angelo

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

FÉTICHE


caminho contrário descalça
no quente passeio da língua
vermelha que unha mordida
retrai a míngua meus passos
sufoca andar

saliva escorre em dedos
que cheiro mistura na pele
prazer que emana de erros
desejo pudor que se despe

meus pés tua boca engole
chupando fetiche guardado
revela em tétis no ato
fraqueza de aquiles

suga dos poros a ira
faz de mulher a menina
que pulsa nas mãos do amante
rasga num gozo cortante
o seu calcanhar... 

Flavia D'Angelo


*Cena do filme "Os sonhadores" de Bertolucci.

ABORTO

Foto: Lena Maia

o solo que furta
desova da alma 
teu colo aborta 
chão que conforta 
vazia invoco
em sombras sufoco

teus restos de mim...

Flavia D'Angelo

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

PECCATUM MEUM


a espada rasgada na cruz
desfaz-me estoica calma
antes ungida de graça
despida de dor
inferno que dante não cria
na carne carente sangria
no logos que corpo jazia
entranhas teu eu com pavor
pecados me valho pedinte
dos sete me faço ouvinte
de gritos que antes calara
explodo sem freio e pudor
orgulho que me reconheço
me visto de melhor apreço
convenço valor 
destrói me a ira sentida
das mãos que me findam vazia
em noite que entrega se faz
dano me dana inveja
o quanto de mim te carrega
quando sozinho se vai
mesquinha sufoco teus passos
apego de seu me encaixo
te quero demais
devoro-te em partes que cruas
sacio metade da gula
não me satisfaz
num louco tormento entrego
ao homem qual vênus irrompe
meu gozo bebido em taça
veneno que dentro me vaza
da nua luxúria que rogo
pecando na alma
acordo
a santa que puta me faz...

Flavia D'Angelo

GRAÇAS A TI


liberta enfim...
sentido exumado
apago passado
graças a ti
me solto envolta
prazer que emana
feliz te sentir
em paz no teu rumo
meu prumo acerta
enterra em mim
que porta cerrada
de algemas quebradas
desfaço-te em passos  
caminho por vir
absorvo futuro 
não mais a amante
amor que consome
tão cheio...inteiro
de gozos sem fim
te faço curado
em braços que abraço
desfaço cansaço
que cama deslaço
desfecho...
graças a ti!

Flavia D'Angelo

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

RUSH...

e me pego ouvindo Rush ao acordar. e cada batida sincroniza a vontade de sair por aí, pulsando aos acordes dessa guitarra. pois é, parada não fico, não vivo, não existo...grito como ela, lá de dentro, bem no fundo...e caio na batera, com as batucas do destino em minhas mãos. e no cantar suave em discórdia com a ira metálica que absorvo, dualizo meu dia espelhando minha alma: calma em fúria. no último gole de café, bato a porta em busca do que preciso: de mim!

Flavia D'Angelo 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

MEMÓRIAS...

Flavia D'Angelo


pronto...arrumado e guardado num quadrado as lembranças que me traduzem a vida. abraços, beijos, presentes, viagens que me reportaram ao mais puro êxtase. a vida conta a partir daqui. nostalgicamente me remeto a cada momento vivido, a cada olhar desprendido, risadas soltas como nuvem em minha cabeça. me sinto agraciada por tantas pequenas coisas que me tornaram grande. ao som da blitz, o coração tristemente se alegra por essas fases da minha vida. luas comidas em noites que amanheciam em lençóis  bagunçados de puro amor, mesmo que momentaneamente. mãos que se davam no afã de uma despedida jamais esperada. toques que emolduravam uma eternidade prometida, que hoje é passada. volúvel? não, apenas a vida que segue seu ritmo de descobertas insanas de que faço parte. e parto, a procura de novas lembranças, não para serem guardadas, e sim trazidas a tona a cada momento de um futuro bem próximo. olhá-las me dói, uma dor de saber-me incompleta, que como criança perde um brinquedo, mas sabe que logo lhe trarão outro, não para substituí-los, impossível, mas para tentar preencher aquele lugarzinho vazio que ficou em mim. e disso vale a vida, de novos presentes, enquanto os velhos ficam sorrateiramente escondidos no sótão das memórias. mas que egoisticamente não dou, não vendo e não empresto. me pertencem, e sem eles me desfaço como mulher que viveu alegremente seus tristes momentos. encontros e desencontros que fazem a base de ser o que sou. e num mundo onde verdade e entrega fazem parte apenas dos que sabem amar, vou tentando não guardar mais nada nesse baú. quero viver o hoje...estar ali, no meu acordar ao seu lado, no café dividido, no dia compartilhado, nas diferenças aceitas, nas brigas refeitas, no carinho sentido que anuncia uma vida onde as lembranças estarão sempre no nosso momento. e deixarei meu baú fechado, lá no cantinho...guardando os passos que nunca se repetirão!  

sábado, 15 de fevereiro de 2014

EU...MEU!


estrofe-me livre
que ritmo inerte
amortece elisão de sentido
da métrica apodrecida
alitero o desprezo
que lapida meus versos
na rima que escarro
a branca escrita 
que pobre me valho
deslava tão rica
em mim poesia
homógrafa forma
toante que torta
me encontro na porta
abrindo o eu...meu!

Flavia D'Angelo

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

GOZO

Flavia D'Angelo


me cura pro mundo
acerta o prumo que torta 
me arrumo na sua
a pele desnuda que rogo
em gozo que lua afoga
trepando seu corpo no meu
cultua meu tudo e mostra
que homem se faz quando jorra
desejo no fundo que é seu...

domingo, 9 de fevereiro de 2014

FANTASMAS...

Flavia D'Angelo


passando fantasmas que corroem a mente. viva me sinto por onipotente visão que me ronda. subjugada de versos me entrego como criança as lembranças. me sinto pura por instantes...alheia ao mundo que rodeia em cores, preto no branco me entrego. falta o que me sinto, não sei aonde...não quero saber. apenas absorver essa angústia sentida no fundo que traduz em pontadas o sentir-me viva. e vivo! bom sofrer esse pesar de pensar em tudo, no todo e no nada vivido...realizo a vontade de conhecer meu eu que traduz na pele com toda força o castigo do prazer sentido em proporções absurdas. me calo na noite na espera de novas dores. o sofrer me desperta, sem ele não me acho. em busca desse emaranhado de sentimentos continuo a caminhar nessa estrada sem destino. peco no ninho de profunda inércia...sempre a espera. querendo sempre algo que me tire o prumo, que me esquarteje rogando pedaços que sobram do que vivi...e nossa história ficará marcada entre gozos e surras de emoções que nunca descreverão meu passado. apenas continuo a buscar essa loucura marcada na alma...quero sofrer...e amar...como um dia aconteceu... 

NA LATA...

Favia D'Angelo

na lata descasca
nua e rasa
todo sentido
faz que desfaça
caro na cara
palavra destilo
língua mal dita
fato digere
não podes comigo!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Haikaiando...


morta no vento
brisa cessa de flor
moída de tempo


Flavia D'Angelo

ME LEVA...


Ela sorria feito boba enquanto a toalha escorria por seu corpo ainda salpicado de ervas. Poderia até ser psicológico, mas sentia-se mais leve com a receita do banho usada para descarregar todo o ranço que carregava há tempos em sua pele. 
Sempre acreditou no mundo de lá e nos seus protetores, independente da linha que fossem, o importante era protegê-la.
Viu-se bonita como há muito não fazia, olhando suas curvas, que não estavam tão mal assim. E mais uma vez prometia a si mesma nunca mais ser tocada por aquele que não soubesse conduzir tudo aquilo. 
Na sua estrada só queria a via de sentido único, mesmo que o destino fosse incerto, mas sem retornos. Cansou de pegar caminhos e atalhos tortuosos e covardes e esperaria o momento certo para aceitar a carona que a vida lhe ofereceria. 
Precisava disso, desse novo, desse todo que lhe faltava. Deixaria se levar pelo desconhecido que conheceria, entregar a direção e avistar no incerto o certo destino de sua vida. E no box deixava toda sua insegurança encravada por uma carona errada. Saiu do carro a tempo de não se perder mais uma vez. Sabia dirigir, e bem. Restando apenas programar melhor seu GPS, sem olhar pra trás...

Flavia D'Angelo   

UMA MULHER

Flavia D'Angelo

Sem Esperança
 Frida Kahlo
E ela acordava mais um dia com vontade de seguir naquele mundinho do edredom que a fazia segura. O sol não a deixava esconder seus pensamentos como o escuro da noite de poucas horas. 
Precisava acordar de todas as maneiras e descobrir sua covardia para o mundo que a cobrava de vida. Não era a primeira vez que tomava conta dela esse sentimento, mas sabia-se forte o bastante para encarar. 
Não sabia como e nem de onde, mas sempre tirava forças pra mais uma...será que estava se acostumando com essas porradas da vida? Não queria, mas chegava a conclusão que esse jogo a cansava, e essa coragem estava sendo consumida pelas derrotas tão costumeiras. 
Estava mais forte, fato, mas quando teria o direito de ser fraca? Queria isso, ser fraca...não precisar travar uma batalha a cada suspiro. Queria descanso, queria paz. Mas sabia que essa realidade não lhe pertencia, não nessa vida, ou em qualquer outra... 
Até que lhe trazia algum orgulho sair daquele poço tão conhecido que insistia em puxá-la. Não ficaria lá! E lavando o rosto marcado de decepções, deixou sumir no ralo vestígios de entrega, e na briga com o reflexo tocado no espelho, mais uma vez, mais um dia, mais do sempre, assumiria a mulher viva que aprendeu a jogar, a não desistir de mostrar pra ela mesma que a felicidade está ali, ao lado, pertinho. 
E vestida de esperança, abre a porta e caminha...hoje vai encontrá-la, com certeza!!!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

AGORA...


engulo de um sorvo o cantar que amanhece de sol a janela no mundo lá fora. na cama mexida em som de cigarra, meus olhos teimam em não acordar. uma paz embalada por noite dormida de calma, vivo o sonho buscado na realidade do agora que me pertence. não penso...me entrego sem cortes na alma, sem ranço de traumas que peito extravasa no calor desse quarto. fome matada de tudo que nada espero...me sente. repara meu grito de louco alívio na voz que me salva. deleite... deliro, pouso abrigo em mãos que extirpam a dor tão sangrada. em caos de passado que ralo desfaço com carne lavada. leva de mim tortura que fim não vence estrada. mulher me revejo, tão perto te vejo de nossa chegada!

Flavia D'Angelo

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

SÚPLICA...




tocas no corpo

que partes conhece
caminho de terço
cruza qual prece
jazigo em gozo
castigo perece
entrega de alma
a ti reconhece
perdura que fundo
sentir enaltece
faça meu mundo
altar que merece...

Flavia D'Angelo

mergulho laranja queima na mente
frio que salga futuro que sinto
pura de encontro
desfaço destino...
vivo!

Flavia D'Angelo